1
Todos os dias acordam
violadas estas praias
que dizemos virgens.
2
A chuva esse suor do mar
já não desfaz a solidão dos homens
ou o piar dos corvos.
3
Mar de Peniche
onde os peixes se atiram contra os barcos
e as grutas dos rochedos nada acoitam.
4
As traineiras juntaram-se a dormir.
Mas o mar não esquece
e grita contra a fortaleza.
5
O mar sorveu todo este dia exausto.
E o que fica da praia são estas pedras
lassas transidas pelo sono.
6
O que fica das pedras é este mar de sono
que os homens já submersos
sorvem a curtos haustos.
7
O que fica da noite
são os presos exaustos
que as pedras dissimulam
e o mar absorveu.
Armando Silva Carvalho