domingo, 8 de julho de 2007

Um poema de um Génio.

ZECA AFONSO

Coro da Primavera

Cobre-te canalha/Na mortalha/Hoje o rei vai nu/Os velhos tiranos/De há mil anos/Morrem como tu/Abre uma trincheira/Companheira/Deita-te no chão/Sempre à tua frente/Viste gente/Doutra condição/Ergue-te ó Sol de Verão/Somos nós os teus cantores/Da matinal canção/Ouvem-se já os rumores/Ouvem-se já os clamores/Ouvem-se já os tambores

Livra-te do medo/Que bem cedo/Há-de o Sol queimar/E tu camarada/Põe-te em guarda/Que te vão matar/ Venham lavradeiras/Mondadeiras/Deste campo em flor/Venham enlaçadas/De mãos dadas/Semear o amor/Ergue-te ó Sol de Verão/Somos nós os teus cantores/Da matinal canção/Ouvem-se já os rumores/Ouvem-se já os clamores/Ouvem-se já os tambores

Venha a maré cheia/Duma ideia/P'ra nos empurrar/Só um pensamento/No momento/P'ra nos despertar/Eia mais um braço/E outro braço/Nos conduz irmão/Sempre a nossa fome/Nos consome/Dá-me a tua mão/Ergue-te ó Sol de Verão/Somos nós os teus cantores/Da matinal canção/Ouvem-se já os rumores/Ouvem-se já os clamores/Ouvem-se já os tambores